quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A VIDA DE COMANDANTE


O nome Porto Gomes, era devido ao nome do dono daquelas terras: GOMES, o mesmo acontecia com Porto Mariante, cujo proprietário era da família MARIANTE.

O piloto do vapor Bom Retiro também morava em Porto Gomes e às vezes pedia para ficar lá em casa, meu pai fazia também o serviço dele e ia rio acima buscar carga. Ainda me lembro que uma vez, enquanto nosso pai dirigia o barco, eu e minha irmã Cecy viajamos sentados na cama do piloto, que ficava na mesma cabine com o comando do motor e do leme. Nós ficamos quietinhos todo o tempo que durou a viajem, ida e volta, que aventura, pelo menos para mim, pois a Cecy já estava acostumada.

Meu pai era um homem respeitado e muito bem quisto por todo o lugar por onde passava. Como a minha história pessoal se passou, em parte, nos mesmos lugares onde meu pai viveu, muitas aventuras se repetem, apenas mudando o personagem central, meu pai ou eu.

Do Bom Retiro meu pai foi transferido para o vapor de nome Rio Grande, onde ficou por pouco tempo, pois logo chegou a Taquari o vapor “Osvaldo Aranha,” que já estava prometido para ele.

O Osvaldo Aranha era o maior barco da Companhia Arnt e usava como combustível a lenha de eucalipto para esquentar a água da caldeira que produzia vapor para movimentar os pistões da máquina que fazia o barco navegar pelo rio.

A capacidade do Osvaldo Aranha era para cem passageiros, mais cem toneladas de carga aproximadamente. Além da carga e passageiros viajavam quinze tripulantes (comandante, piloto, maquinista, foguista, despenseiro e tripulantes para carga e descarga). Era um barco muito bonito, fabricado na Alemanha, atravessou o atlântico navegando para enfim chegar a Taquari.

Navegava silenciosamente e quem viajava nele tinha ampla visão das margens do rio. À parte de baixo era reservado às cargas, máquinas, e acomodação dos marinheiros. Na parte do meio ficavam o refeitório, a acomodação dos passageiros, a administração e a acomodação do comandante, e outros oficiais, a cozinha e a dispensa, ficavam do outro lado da parte do meio, e a carga no convés da proa.

Na parte superior havia a roda para movimentar o leme e o comando do motor de tração, dentro da cabine do piloto, e mais atrás, as cabines para os passageiros da primeira classe.

Quando navegava a noite, ele ia todo iluminado, contrastando com o leito escuro do rio. Isso formava uma visão muito bonita e alegre. Era gostoso vê-lo chegando ao porto nas noites de verão, com os passageiros e os que os esperavam em manifestações de alegria. Era a vida daquele povo em mil novecentos e trinta.

Meu pai, como comandante, era o responsável pelo bem estar dos passageiros, pelas boas condições das mercadorias transportadas e pelo manifesto feito por ele. O manifesto era um documento onde tudo era anotado em relação aos passageiros e a carga (locais de embarque e desembarque, também se registrava o tipo de carga).

No embarque ele recebia ou mandava seu ajudante, o meu tio Lico, receber as passagens, isso era fácil porque os passageiros entravam um a um pela prancha, que era uma tábua grossa de 30 centímetros de largura, ligando o barco à plataforma de embarque, na margem do rio ou “PORTO.”

Além do respeito dos donos da companhia ele tinha a confiança dos usuários, para transportar familiares menores de idade e idosos, sem o acompanhamento dos responsáveis da família, bem como de vultosas quantias em dinheiro e outros valores. Outra coisa comum, quando chegava a Porto Alegre, era fazer compras encomendadas pelos moradores das cidades ribeirinhas.

Através dos seus minuciosos registros, meu pai mantinha tudo controlado e por isso era o melhor comandante da companhia. Assim, seguidamente, o seu Leopoldo, dono da Companhia Arnt, chamava meu pai para aconselhar-se sobre algumas providencias referentes à companhia. Depois de certo tempo, não fazia nenhuma mudança sem antes consultar a opinião do meu pai.

Nota: a fotografia mostra, da esquerda para direita, encima  Cecy (filha), Marice (nora) e Jacy (filho). Embaixo, Claudia (neta caçula), Gladis (segunda neta), Anna Almira (esposa), Cesar (terceiro neto), Eugênio e Marcus (neto primogênito)

1 comentário

Anônimo disse...

Oi Frank!

Fiquei encantada com as histórias de seu pai e sua família. Meu bisavô, Nicolaus Käfer Sobr., tinha duas balsas na Barra do Forqueta e um entreposto também. Minha mãe nasceu em 1926 e sempre me fala com saudades de sua infância e nas tardes que passava com eles. Gosto muito dessas histórias e tenho muito interesse por elas. Por favor, continue!

Abraço,
Maristela Rohenkohl
PORTO ALEGRE - RS

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