domingo, 10 de julho de 2011

O porto a casa e a carpintaria

tipo de maxambomba para passageiros do recife

Na casa de Porto Mariante, em baixo do salão meu pai tinha uma fábrica de carroças, (o torno era uma parafernália tocada a pé, todas as outras ferramentas eram manuais, como plainas, serrotes, formões, furadeiras, etc.) e de pequenos barcos.

Assim, meu pai era carpinteiro e, ao mesmo tempo, ele cuidava do armazém para onde chegavam, de barco, as mercadorias para abastecer o comércio daquela região e também partiam as mercadorias que iriam abastecer as cidades ribeirinhas do rio Taquari e Jacui, principalmente Porto Alegre.

O armazém do qual estou falando, estava construído na beira do barranco do rio, que ficava a uns vinte ou trinta metros da superfície da água, e para carga e descarga eles usavam um sistema de maxambomba.
Esta maxambomba era tracionada por uma mula e se movia sobre um sistema de trilhos por onde transitavam dois carros, enquanto um subia o outro descia. Tais carros eram presos a um cabo de aço, de maneira que a mula movimentava um roda puchando um lado do cabo e afrouxando o outro, e nós dizíamos que enquanto o upa subia o cupa descia.

Recordo-me ainda dos fardos de alfafa, bem empilhados dentro do armazém, prontos para serem embarcados e levados para Porto Alegre. este tipo de ração era produzido nas terras boas às margens do rio Taquari, e levado para servir como alimento aos cavalos de corrida do prado, assim como para os cavalos de tração animal das carroças que traziam cerveja da Brama para o cais do porto.

Foi nesta época que eu virei pombo correio (tudo que eu falar sobre o assunto é por ter ouvido as “pessoas” dizerem), isto é, levar recado do meu pai para a minha mãe e vice versa. Naquele tempo eu somente tinha que me cuidar do tráfego “intenso” de carroças, puxadas umas por três mulas e outras maiores por seis, que vinham carregadas de fardos de erva-mate do município de Venâncio Aires.

A mata nativa daquele município possuía uma grande quantidade de pés de erva mate, tanto da paraguaiense como da caúna, razão porque Venâncio Aires (minha terra natal) tornou-se a capital da erva mate, e Porto Mariante era um de seus distritos.

Dizem que meus recados nem sempre eram muito bem compreendidos, também pudera, pois eu mal sabia formar frases capazes de serem entendidas...

Uma coisa que eu me recordo perfeitamente, é do material que eles botavam para melhorar as condições da estrada, naquela época não existia britadeira, então carregavam cascalho da beira do rio e espalhavam por cima da estrada, o cascalho era de pedra rolada no rio, com os cantos arredondados e a superfície bem lisa, parecia polida, os cascalhos eram muito bonitos, e ajudavam na conservação da estrada, pois a terra era de barro vermelho, e quando chovia, formava um lodaçal incrível.


Do Porto Mariante nos mudamos para Taquari, por um curto espaço de tempo, e novamente nos mudamos para Porto Gomes, que ficava bem perto de Porto Mariante, um quilômetro aproximadamente. Lembro-me que esta estrada tinha plátanos plantados ás suas margens, eu achava-os muito bonitos, fiz questão de plantar alguns na minha granja.

Fontes da ilustrações:
1- maxambomba por Leonardo Dantas Silva. Maxambombas e Maracatus (1935).
2- alameda de plátanos por oriza martin. Sinfonia de Outono.

Continue lendo...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A CARROÇA ATOLADA

Carro de Bois (óleo sobre tela) de Jurandi Assis

Meu tio João era sonâmbulo, e de vez em quando tinha uns sonhos que merecem ser relembrados, pois então vou contar um daqueles entre tantos, que guardei na memória!


Uma determinada noite meu tio João sonhou que estava trazendo uma carga de mandioca e cana, para dar aos animais na mangueira e no cercado dos porcos. Como ele não se lembrou que tinha chovido muito, e que a estrada estava barrenta, carregou muito a carroça. Porém, a junta de bois formada pelo Bragado e pelo Tição, era nova e tinha muita força, e ele veio vindo devagarinho, ultrapassando um buraco mais fundo aqui outro ali.

Para ultrapassar os obstáculos, hora tinha que chamar o Bragado, hora o Tição, até que num dado momento a carreta atolou de vez. Ele chamou um boi, chamou o outro, mas a força deles não era suficiente para desatolar a carreta. Dadas as circunstâncias, não teve outro jeito, ele desceu da carreta e foi ajudar os bois, pegou nos raios da roda e começou a fazer força, ao mesmo tempo em que gritava com os bois para que também fazessem força. Quando, finalmente, ele conseguiu destrancar a carreta, caiu na rua, levando consigo a parede do quarto e acordou!

Vou explicar: a casa do tio João era estruturada em madeira e os vãos das paredes eram preenchidos com tijolos que ficavam sem amarração, pois estes tijolos eram assentados apenas com argamassa de barro. No seu sonambulismo, meu tio João se agarrou nos ferros da cabeceira da cama, pensando que eram os raios da carreta, e enquanto fazia força com as mãos, apoiava as costas na parede. No ápice do esforço, a parede cedeu e o vão que ficava embaixo da janela se desmoronou e meu tio caiu com ele lá na rua. A queda não foi pequena, porque a casa era construída sobre palafitas que ficavam a uns dois metros do solo, por causa das enchentes do Rio Taquari.

Resultado prático do sonho: ele acordou todo esfolado, mas curadas as feridas e restaurada a parede, dava boas risadas cada vez que rememorava o fato!

Exemplo de casa sobre palafitas para evitar enchentes.

Continue lendo...

Creative Commons License
Esta obra esta licenciada sob uma Licenca Creative Commons.