domingo, 26 de dezembro de 2010

MEU TIO JOÃO E O TOURO BRASINO

Meu tio João era um pequeno agricultor, quem morava na Beira do Rio Taquari. No seu tempo, o serviço pesado era todo movido à tração animal, fato gerador de situações inesperadas...


Antes do Milagre Brasileiro, iniciado em 1968, quando houve um expressivo crescimento econômico, a mecanização da agricultura no Rio Grande do Sul era mínima e a tração animal era a regra.

Assim, todo pequeno agricultor criava as vacas para o abastecimento de leite e um ou dois touros ou bois para puxar arado e carreta. Em geral, utilizava-se um touro, que servia também como reprodutor, mais um boi que se tornava mais calmo por ser castrado.

Ataque de touro

Meu tio João tinha conseguido criar um touro manso para puxar carreta e arado. Ele era relativamente pequeno, de cor amarelada, guampa curta e atendia pelo nome de “Brasino”. Seu companheiro era o “Bragado”, que já não era mais touro, pois tinha sido castrado fazia algum tempo. O Bragado era muito manso pela sua condição de velho e castrado.

O tio João costumava botar os dois “a soga”, quando sabia que ia precisar deles para algum serviço. Ou seja, ele fincava uma estaca funda no chão e amarrava o animal a ela, permitindo que eles pastassem em torno da estaca e fosse mais fácil pegá-los para utilizar no arado ou carreta.

Esse era o costume e tudo corria bem. Porém, um dia quando meu tio foi pegar o touro Brasino, ele se enfezou, e investiu contra ele, derrubando-o no chão e fazendo-o perder os sentidos.

Felizmente, ao cair, meu tio rolou no chão ficando ao alcance apenas de ser raspado pelas guampas do touro. Quando ele voltou a si, já estava com a barriga toda riscada pelas “aspadas” que levou do touro. Sua sorte foi que a corda que segurava o touro era nova e a estaca era forte e estava bem cravada na terra.

Se o meu tio agiu de forma inusitada para enfezar o bicho, ele nunca contou, mas é fato que os touros são imprevisíveis e quando a gente menos espera, eles avançam. Geralmente, quando o fazem, eles são capazes de causar estragos bem grandes com suas investidas.

Como bom gaúcho, depois desse episódio, meu tio João fez um belo churrasco. A fonte da carne vocês podem imaginar!

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sábado, 9 de outubro de 2010

LEMÃOSINHO TRABALHEIRO (autobiografia parte I)

Jacy aos 2 anos (1928)
Primeira fotografia (1928)
 Porto Mariante, foi nesta localidade que eu nasci, em 18 de maio de 1926, já faz bastante tempo não é? O que eu contar aqui me contaram ou eu deduzi ao ver fotografias.

Dizem que nasci pequenininho como a grande maioria dos seres humanos, e pelado, que falta de pudor!
Mas dizem que logo após o banho (desde aquela época já tinha costume de manter o corpo dentro de certo padrão de higiene), foram providenciadas roupas para ninguém ficar constrangido ao me olhar.

Passei de colo em colo até poder me movimentar com meus próprios meios, primeiro engatinhando e depois como todo (ou quase todo) Homo erectus, com minhas próprias pernas, de início dentro de casa, pois dispunha de um salão de festas para correr, mas assim que foi possível saí para a rua, coisa que eu gosto de fazer até agora.

Tenho vagas lembranças de um carrinho com quatro rodas e uma caixa em cima, todo de madeira, sendo que o eixo das rodas da frente estava fixo em um cabeçalho, que servia para puxar e guiar o carrinho, tudo feito pelo meu pai; diziam-me que meu tio Dico (Frederico C. Franck), irmão mais moço de meu pai e que, temporariamente, estava morando lá em casa, quando tinha 14 anos de idade, me botava dentro do carrinho e corria puxando o mesmo ao redor do salão, até que um dia fez o carrinho capotar comigo dentro! Dizia minha mãe que ele levou um xingão daqueles, parece que meu querido tio era muito moleque no tempo de guri.

Nesta época, os brinquedos para criança eram muito caros e raros, por isto improvisaram um funil enfiado no outro para eu brincar, mas num dado momento o braço de apoio fracassou e eu caí em cima do brinquedo, fazendo um corte profundo no nariz, marca que ficou para sempre e visível até hoje. Como não havia médico, posto de saúde ou hospital por perto, usaram um chumaço de algodão embebido em sabão aristolino para fazer os curativos, e deu certo.

Na frente do salão tinha uma escadaria em V, e foi na frente dela que eu saí fotografado vestido com uma fantasia de cardeal, pronto para o carnaval, apesar de mal saber caminhar, minha mãe nunca me perguntou se eu queria me fantasiar para participar do carnaval, ela simplesmente fazia a fantasia, me vestia e me levava para participar e pronto!

Desde o momento em que eu pude falar antes da máquina de costura, eu disse não, neste momento todos ficaram sabendo que eu gostava de baile e não de carnaval, o que, aliás, eu gosto muito até hoje, mas a primeira foto que eu tenho registrado, já sabia sentar, vestido com uma bela roupa confeccionada pela minha mãe, a foto ( que ilustra esta postagem, foi ampliada pelo meu genro Isaias, e colocada na mesma mesa onde está a fotografia da dona deste lar, que tanto amo.

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sábado, 31 de julho de 2010

NÃO SEI SE VOU POR DENTRO OU VOU POR FORA


O episódio que vou contar se passou no rio Taquari e envolve uma falsa ilha, que só se formava quando o rio aumentava de nível durante o período de chuvaradas, formando desta maneira mais um braço. Meu pai conheceu o personagem desta história, mas como eu não o conheci, usarei um nome fictício, mas que ela foi fato foi!

Quando essa história aconteceu, eram muito usados na navegação fluvial uns pequenos barcos de carga com motor movido à gasolina, que eram chamados de “gasolinas”.

Naquele tempo, tudo o que se relacionasse com motores e gasolina era muito caro, por esse motivo os barqueiros que transportavam mercadorias entre o interior e Porto Alegre aproveitavam o mais que podiam as correntezas do rio Taquari, preferindo os tempos das cheias.

Foi numa destas ocasiões que um Joaquim da Silva qualquer, vinha com seu “gasolina” carregado de carga rio abaixo, com o motor parado e aproveitando a correnteza. Mas, num determinado ponto do rio, havia uma ilha, e aí o barqueiro olhou para um lado, olhou para o outro, para ver em qual dos dois a correnteza estava mais forte, ficando naquela dúvida: NÃO SEI SE VOU POR DENTRO OU VOU POR FORA... NÃO SEI SE VOU POR DENTRO OU VOU POR FORA...

Sem escolher a tempo, acabou embicando a proa do barco na ponta ilha e encalhou!

Assim, ele precisou esperar que viesse outro barco que pudesse lhe prestar socorro e o puchasse para fora, a fim de continuar rio abaixo até seu destino.

QUE BARBARIDADE!!

Fonte da ilustração: Espaço Rudi Santos

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sábado, 3 de julho de 2010

OS TOUROS DO SÍTIO FRANCK


O sítio Franck situa-se na cidade de Bento Gonçalves, RS. Até o início dos anos 90 ele foi utilizado para produção de gado leiteiro e leite. Desse tempo, há algumas histórias e aventuras a contar.

Uma das práticas que cometemos durante o período que exploramos a produção de leite aqui no sítio Franck foi a criação de touros para a cobertura de vacas, das quais não desejávamos aproveitar as crias.

Em vez de inseminação artificial, utilizávamos a cobertura natural. Dessa forma, aparentemente, fazíamos economia, pois a inseminação artificial era cara, principalmente quando se usava semem de touros provados e não fazia sentido utilizarmos um semem especial em vacas das quais não queríamos aproveitar as crias.

Como resultado dessa opção houve a necessidade de criarmos alguns touros e com isso corremos alguns riscos que poderiam ter custado bem mais que as inseminações artificiais. Para terem uma idéia dos perigos, vamos contar algumas histórias dá passagem destes touros por aqui.

O primeiro touro que deixou sua marca chamava-se LINDO. Sua beleza se devia a uma mãe mestiça holandesa e a um pai puro Jersey de inseminação. Antes de alguém saber que o Lindo estava ficando brabo, eu e meu pai estávamos caminhando pela avenida dos ciprestes, de um lado da taipa, e o lindo nos acompanhando do outro lado. Em certa altura da caminhada, eu disse para meu pai: “Vamos voltar porque não estou gostando do jeito e da cara deste touro, além disso, a taipa ali mais adiante está mais baixa e é perigoso para o senhor que não pode mais correr”.


Dito isso, voltamos com o touro sempre nos acompanhando do outro lado da taipa. Quando chegamos num local aonde a taipa era mais alta, tentei espantar o touro, mas ele nem se mexeu. Mais tarde quando já havíamos chegado a casa, o Diamantino, nosso empregado que tratava do rebanho nessa época, veio nos avisar que o Lindo tinha pulado a taipa, bem no lugar que eu tinha tentado espantá-lo. Ele havia pulado sem tocar com os pés em cima da mesma.

Até a gente se convencer que o Lindo era muito perigoso, apesar de ser um touro pequeno e meio sangue Jersey, ele pulou muita taipa e muita cerca, nestas ocasiões só o Diamantino conseguia lidar com ele, porque ele não tinha medo e chegava perto, e usando uma vara com o pegador de argola na ponta, dominava o touro. Assim, enquanto o Lindo era novo tudo bem ele pulava, mas podia ser controlado com facilidade.

Porém, depois de completar três anos, o Lindo virou um bicho muito brabo, daqueles que só com o olhar te botava para correr e ninguém aqui do sítio conseguia mais lidar com ele sozinho, pois chegou o ponto que mesmo agarrado pelo focinho com a vara, ele vinha para cima do tratador e era preciso atar uma corda nas guampas para detê-lo. Assim, para lidar com o Lindo, eram necessárias duas ou três pessoas, uma manuseando o pegador de argola na ponta de uma vara e as outras duas segurando as cordas atadas nas guampas.

Uma nova medida de segurança que tomamos foi construir para o Lindo um cercado e estrebaria especial. Ele ficava preso o dia todo nessa estrebaria especial e “invulnerável”, as vacas que entravam no cio eram levadas até ele. Porém, houve um dia em que escapou desse local “invulnerável” e foi um sufoco para prendê-lo novamente, pois descobrimos que não tinha altura de taipa que o segurasse, assim todo mundo correu para dentro de abrigos ou casas e ele ficou solto. Finalmente, alguém se lembrou de botar forragem na sua estrebaria e ele voltou para lá sozinho, sendo trancafiado. Dali foi encaminhado para o açougue, já que era perigoso de mais e havia muitas crianças que circulavam pelo sítio, a faca do açougueiro foi à solução, ainda bem que não pegou ninguém. MAS QUE ASSUSTOU, ASSUSTOU!

Depois tivemos um tourinho sem eira nem beira e nem nome, pequeno, filho de uma vaca que seria descartada logo, mas que para a monta natural de crias descartáveis, até que vinha a calhar. Nosso responsável pelo rebanho leiteiro na época era o José Crespim, que chamávamos apenas de Zé.

O Zé movimentava esse tourinho como queria, mas alertado por mim, usava bem preso ao pulso do braço direito por uma laçada de couro um porrete. Num dia em que ele foi buscar o touro no potreiro de cima, prendeu o bicho pela argola do nariz, e foi trazendo-o, até que ouviu um barulho estranho, a primeira coisa que fez foi quadrar o corpo, o Zé tinha corpo de atleta, e era ligeiro, mas assim mesmo o touro fez um risco na sua barriga, COM A GUAMPA.

Não satisfeito, o tourinho se lançou noutra investida contra o Zé. Nessa o touro começou a apanhar com o porrete, mas, assim mesmo, fez outro risco na barriga do Zé, que continuou batendo. Mas o touro não parava de tentar atacar e continuou a apanhar, tanto que ficou cego de um olho. Ola Zé valente! Nessa luta, ele trouxe o bicho até onde a vaca estava esperando para ser coberta e ficou preso até ir para o açougue.


Depois tivemos um touro chamado AB. Esse era um terneiro puro holandês que ganhamos do Aristides Bertuol, como os outros, enquanto novo foi muito bom, mas depois de completar três anos, ninguém mais segurava o bicho, pois ele era um baita dum touro. O evento mais sério mesmo ocorrido com o AB, que eu me lembre, foi uma corrida que ele deu no Arsilio, que era nosso entregador de leite.

O Arsilio ele não acreditava no que o Mário dizia (quem tratava e tirava leite dos animais nesta época era o Mário) e foi se meter a facão sem cabo contra o touro, que havia escapado do cercado. Ele teve que correr bastante, porque o bicho vinha atrás! Não deu outra, açougue com ele, do AB em diante não quis mais criar touros.

Porém depois do AB tivemos mais um touro o Pretinho, até as suas aspas eram escuras! Ele era mestiço de zebu (girolande), resultado do cruzamento de uma das nossas vacas que tinha puro sangue holandês inseminada de um touro Gir. Esperávamos por uma fêmea, mas em vez de vaca nasceu um tourinho bem pretinho, ele era tão bonito que resolvemos criar e em pouco tempo se tornou uma beleza de touro, grande, reluzente, brincalhão, subia em cima das taipas com uma facilidade danada.

Um dia eu o peguei encima de uma taipa comendo laranja comum, ainda está lá o pedaço derrubado de taipa por onde ele subia e a laranjeira da qual comia os frutos. Essa taipa nuca mais foi arrumada por falta de necessidade, pois já não separava coisa nenhuma porque os potreiros foram unidos em um só.

Por causa do costume do Pretinho de subir em taipas, tivemos que unir por tapumes, uma porteira com um cipreste, lugar que ele usava para sair do potreiro e atingir as pastagens cultivadas. Porém, chegou um ponto que não deu mais, pois ele era inconfinável e mesmo sem ter se tornado muito brabo a solução foi o matadouro do Tomasini, já que as histórias dos touros anteriores nos alertavam sobre os perigos que poderiam surgir. Assim, este touro que nunca correu atrás de ninguém, pelo que eu me lembre, foi eliminado antes de se tornar brabo, por precaução.

Atualmente, já não trabalhamos com produção de leite e nosso sítio tornou-se apenas moradia com uma pequena criação de ovelhas e vacas, porém as ruínas da estrebaria dos touros sem telhado e sem porta ainda estão lá para relembrar estas histórias. MAS, APESAR DOS TOUROS BRABOS, COM TODOS OS ERROS E ACERTOS, ESTAMOS AQUI VIVOS E HÁ MAIS DE CINQUENTA ANOS.


Imagem inicial: Aguada de nanquim de Pablo Picasso disponibilizada Ignez Ferraz  no artigo “Espanha: Roteiro de analogias artísticas”. Segundo a autora: Em 1957 o pintor homenageou o famoso matador Jose Delgado com uma série de 26 aguadas de nanquim denominada “Tauromaquia.

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quinta-feira, 17 de junho de 2010

O TOCADOR DE GAITA

Esta história me foi contada pelo meu pai, como causo de fato ocorrido, que se passou no interior do município de Taquari(RS).

Havia um rapaz chamado Filermino que era pobre e tocava gaita. Ele morava num rancho de barro com chão batido, coberto de capim, em um pequeno sítio, onde plantava milho, feijão e aipim.

Seus únicos bens eram uma égua baia, um arreio muito bem cuidado, um pelego vermelho de dar gosto, um cabresto e um freio sempre bem ensebados, guardados num suporte de arame para os ratos não roerem. Também tinha uma gaita que sabia tocar, relativamente, bem.

Apesar de pobre, o Filermino estava noivo de uma moça também do interior. Sua noiva era de família pobre, mas honesta e morava numa casa com as paredes chapeadas de barro encima de uma estrutura de pau a pique e trama de taquara, com cobertura de capim rabo de burro. Por aquelas bandas, conforme aumentava a família, eles espichavam o rancho, por isso este tipo de moradia era chamado de “arranchamento”.

Naquele tempo, era comum aos fins de semana, serem feitos serões uns nos ranchos dos outros, e foi num desses serões que aconteceu o fato que vou contar:

Em uma noite de verão, em que o noivo estava de visita, resolveram fazer serão no rancho de um compadre que morava próximo (coisa de uns três quilômetros), como o noivo tocava gaita, aproveitaram para fazer um arrasta pé no terreiro, pois a claridade da lua era convidativa.

Terminada a visita e o pequeno baile, voltaram para o rancho da família da noiva. Mas, quando estavam chegando a casa, o Filermino notou que a sua égua, muito mansa, estava amarrada na árvore defronte ao rancho e dormia um bom dum sono. Munido de um inexplicável espírito de porco, ele disse para os que o acompanhavam: “VOU DAR UM SUSTO NA MINHA ÉGUA”!

Dito isso, ele foi andando em direção à égua baia, pé ante pé, até chegar bem perto da traseira do animal, pegou na gaita, apertou nos baixos e no teclado, encheu o fole e tocou com toda a força!

Com o barulho a égua acordou assustada e, instintivamente, “mandou os dois pés para trás”, dividindo a gaita do gaiato em duas!

É burro!!!! BARBARIDADE TCHÊ....

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quarta-feira, 26 de maio de 2010

O I TÁ QUI


A maior fazenda de criação de gado da região da fronteira do rio Grande do sul com a Argentina, tinha como proprietário um tal de Dr. Idalécio, formado em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pois a do Rio Grande ainda não tinha sido fundada, seu pai tinha sido um índio grosso acostumado as lidas do campo, rosto crestado pelos raios do sol escaldante da fronteira, sabia que somente um homem estudado e sabido poderia levar adiante um empreendimento como a sua fazenda, com uma área tão grande e com métodos modernos de melhoramento de gado e de pastagens.

Como presente de formatura, ganhou de seu pai, uma viagem à Europa, principalmente pela França e Inglaterra. Na Inglaterra, o moço, Dr. Advogado, com a devida responsabilidade que lhe dera o pai, procurou se informar das raças de gado mais modernas para a produção de carne, como: Aberdeen angus, Devon, Shorthorn e Hereford, visitou diversas cabanhas, tomou conhecimento dos métodos mais modernos em uso e só depois voltou para o Rio Grande, com vontade de tornar aquele pedaço de pampa, num criadouro de raças modernas, fazendo uma produção de carne de alta qualidade para a gauchada fazer churrasco.

O Dr. Idalécio era conhecido em toda a região como Dr. I, uma espécie de apelido carinhoso e respeitoso, pois ele dizia sempre: o respeito é bom e eu gosto, a fazenda dele ia de vento em popa, os melhores planteis estavam lá, sempre aos cuidados de uma médica veterinária, ficando as pastagens por conta de uma Eng. Agrônoma, suas filhas, estas sim, já formadas pela UFRGS.

Todos os fins de semana, o Dr. I mandava pegar um novilho de sobre ano, gordo, para carnear e fazer um belo churrasco para todo o pessoal que trabalhava na fazenda, mais alguns amigos fazendeiros e líderes políticos. Estes últimos não faltavam nunca, mas quem organizava e comandava tudo era o capataz da fazenda, Manoel da Silva, também conhecido como SEU MANECO, que providenciava a pinga envelhecida em barril de cavalho para aperitivo assim como o vinho tinto importado para acompanhar o churrasco.

Quando estava tudo pronto alguem ia chamar o patrão, então o capataz dizia em voz grossa e forte, vão se assentando para comer, porque o Dr. “ I TA QUI “

Esta chamada do capataz foi tantas vezes repetida, que acabou formando uma só palavra: ITAQUI, acabou soando tão bem nos ouvidos dos políticos que, em homenagem ao DR. Italécio, quando fundaram o novo município, resolveram chamá-lo de, imaginem só!!! “ ITAQUI”

A história que contei, não sei até que ponto ela é verdadeira, mas tem um cunho de bem provável, lá isso tem.

Os nomes das coisas muitas vezes surgem de uma hora para outra, sem que para isso fosse pensado, o nosso mundo é formado de surpresas e coisas sem nexo, que, na maioria das vezes, não tem nada com o que está ocorrendo.

O que escrevi tem a finalidade de fazer com que as pessoas aprendam um pouco a divagar sobre as coincidências, nosso mundo está cheio delas e o direito de pensar é a única coisa verdadeiramente nossa que ninguém pode tirar!!!






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sábado, 15 de maio de 2010

A COMPRA DA GRANJA FRANCK (HOJE SÍTIO FRANCK)


fundo da casa principal 2


Em 1951, em companhia de José Grazzia, meu pai comprou uma propriedade de 30,5 hectares na linha Palmeiro, no lugarejo chamado Barracão. O valor da primeira parcela foi CR$ 35.000,00 e foi pago 50% por cada sócio1.

Em 1952 meu pai comprou a outra metade do seu sócio com dinheiro recebido do Silveira, marido da Cecy, (CR$ 10.000,00) mais CR$ 15.000,00 obtidos com a venda de pedras de alicerce da casa velha, para a Cia Mônaco.A 2ª parcela da compra, no valor de 37.000.00 cruzeiros, foi pago com um empréstimo da Caixa Econômica Federal.

Esta propriedade estava abandonada há anos, e fora muito depredada pelo último proprietário, estava virada em espinho, pedras soltas, e um casarão de madeira em cima de um porão de pedras de alicerce. Tivemos que fazer tudo, a começar do zero, e foi isto que foi feito.

Durante as férias escolares, comecei a ajudar meu pai a construir a 1ª e a 2ª casa de madeira, organizar parreiral, estábulo e a compra do 1º jipe logo depois que comecei a trabalhar na Secretaria da Agricultura. De 1958 em diante, a granja começou a dar lucro, pela venda e transporte de leite e de uva, porque até aqui meu pai é que financiava a vida da granja.

sitioanos80


CESAR em 1962Nesse tempo, meus pais ainda moravam numa casa situada no Bairro Planalto em Bento Gonçalves, que era de propriedade da Secretaria da Agricultura. A vida dos meus pais era muito simples, de manhã sedo 5,30 ou 6.00 horas, meu pai levantava e fazia fogo no fogão a lenha (não tinha fogão a gás), punha a chaleira com pouca água em cima da chapa do fogão e ia para o banheiro, quando voltava a chaleira estava chiando, neste tempo que ele levava para fazer chimarrão, minha mãe levantava e vinha lhe fazer companhia, sentados na porta da cozinha, no verão com a porta aberta e no inverno com a porta fechada. Esta rotina mudava nos fins de semana quando eu vinha visitá-los, primeiro solteiro e depois com a família.
Depois que o tio Dico (Frederico Conceição Franck) mudou-se com a família para Porto Alegre, passou a visitar meus pais com certa freqüência, uma visita sempre muito bem vinda, pois além de irmão, era um homem muito bom e meu padrinho.
Além da trabalheira toda que meu pai estava tendo com a produção de mudas e organização de pomares, nos finais de semana, impreterivelmente, vinha até a granja para verificar o que estavam fazendo e tomar as devidas providências, para executarem novos trabalhos (eita homem forte de espírito, pelo menos, porque de saúde já estava fraquejando).

APOSENTADORIA
Meu pai aposentou-se e veio morar aqui na granja em 1962, na primeira casa de material por nós construída, perto do portão de entrada, com 80 m² de área mais o porão. Em cima possuía: 3 quartos, sala, cozinha, dois banheiros e uma área.

Ela ficou muito perto da estrada, mas quando foi construída, o movimento era quase zero, além de alguns homens a cavalo ou carroça, passava algum veículo automotor, muito raramente, cerca de um por mês, a não ser o nosso próprio, usado para o frete do leite.

Gladis à porta da casa dos avós

Nos fins de semana, a casa ficava apertada com a gurizada crescendo! Assim, fizemos uma casa de material para o Davide morar de 56m² com porão aproveitável, onde ele instalou uma barbearia.

Em seguida começamos a construção da casa grande com 144m², de início, quando só ocupávamos a parte de cima como moradia: tinha cinco quartos, dois banheiros, uma sala grande, uma sala de jantar e uma cozinha; na parte de baixo com 120m²: um banheiro mais sete peças.
Marcus, Cecy, Anna e Claudia


Uma das peças do porão minha mãe usava para guardar o leite em panelões de alumínio, dentro de um refrigerador comercial, depois de frio ela tirava a nata, e então batia manteiga para vender, uma outra peça era o nosso escritório, as outras foram sendo ocupadas depois. Na organização da granja como propriedade produtiva eu também contribuí com trabalho e tomada de decisões, continuando naquela linha até onde foi possível (mas esta é outra história).

fundo da casa principal


Foi neste período que começamos a aumentar a produção de leite e de uva, para o leite foi construído um estábulo de material para 21 vacas, e nas parreiras foi implantado um quadro de Cabernet Franc com 600 plantas, sendo que 400 faziam parte de um experimento com 25 clones de 4 repetições cada clone (o grande erro meu, foi não ter acabado com o experimento ainda no primeiro ano, e substituído aqueles clones improdutivos e atacados por virose, por enxertos produtivos da mesma variedade, para terem uma idéia: Tinha clone produzindo 50 Kg. Por pé e outros 0,5 Kg. O interesse da E.E. de Caxias do Sul pelo experimento, foi zero, e nós tivemos um grande prejuízo financeiro.

A uva era entregue na Cia.Mônaco, onde éramos muito bem tratados. O leite era distribuído de casa em casa, dava um rendimento muito bom, seria maior se não tivessem havido alguns desvios realizados por pessoas em quem meu pai e eu tínhamos plena confiança!

ângulo do estábulo - depósito

ângulo do estábulo - espaço das ovelhas

A granja foi transformada num canteiro de obras produtivo: Uva, leite e noz Pecã. Compramos a “granjinha” uma área de oito hectares que fazia divisa com nossa propriedade. Não sentíamos falta de terra, mas nesse terreno havia mais água, que no nosso era escassa. A granjinha também entrou no canteiro produtivo coma implantação de pastagens e potreiros.

Este grande homem, maior ainda porque fazia e porque achava que deveria fazer, nunca pensou em honrarias, quanto mais fazia mais humilde ficava.

QUE O PAI O PROTEJA ONDE TU ESTIVERES.
OBRIGADO POR TUDO O QUE EU RECEBI DE TI E DA MAMÃE.

Nota:
1- em 1942 - O "cruzeiro" tornou-se a nova moeda nacional até 1967 – quando a desvalorização do "cruzeiro" levou à criação do "cruzeiro novo", com valor mil vezes maior (Portal São Francisco).

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domingo, 25 de abril de 2010

DA PRAGA DE GAFANHOTO À BENTO GONÇALVES

(Vista Geral de Bento Gonçalves fotografada a partir do Bairro Planalto no início dos anos 1950)
Vista geral de Bento Gonçalves a partir do Bairro Planalto no início dos anos 1950.


Um fato marcante da vida na Estação Experimental de Pomicultura de Taquari foi uma invasão de gafanhotos (os saltões), durante a gestão do Guimarães. Meu pai, Eugênio Franck, era o seu técnico de confiança, quando começou a invasão ele estava de férias, mas quando os gafanhotos se aproximaram da estação, o Guimarães pediu para ele interromper as férias e comandar o combate aos gafanhotos.

Esse combate foi feito com muita eficiência, uma parte da nuvem que passou ao largo da estação se acomodou num banhadal da fazenda Lemerts e virou adulto voador, aí vieram em sentido contrário e invadiram pelo ar toda a estação.

Meu pai falou com o Guimarães para que todos comandassem seus subordinados, no controle de cada área de sua responsabilidade, custou um pouco até compreenderem a gravidade do problema, para então começaram a tomar providências. Enquanto meu pai com seus subordinados cuidavam da lavoura os outros combatiam os saltões nos pomares, viveiros, etc.

Por causa deste incidente e por ciúmes das atenções que o diretor dava ao meu pai, conseguiram criar um clima desagradável, e por esta razão meu pai aceitou a oferta do diretor da DPV para mudar-se para Bento Gonçalves, onde chefiaria a Inspetoria de Sericicultura.

(Vista Geral de Bento Gonçalves, mostrando casas com parreirais no perímetro urbano)
Bento Gonçalves fotografada a partir do Bairro Planalto no início dos anos 1950


Na verdade foram muitas mudanças: de serviço ede costumes. Em Bento Gonçalves havia um ambiente completamente diferente, essa era uma unidade sem crédito no comércio, pois o chefe anterior ficara devendo para todo o mundo e os empregados atuavam como mensalistas ou diaristas, sem condições adequadas de trabalho.

Sua primeira providencia foi pagar as dívidas, para isso mandou cortar um mato de eucaliptos que vendeu para as cantinas e com o dinheiro pagou o comércio.

Segunda: Desmanchou um galpão sem utilidade, e mandou fazer casas para os operários, dentro do terreno da inspetoria. Também mandou ocupar uma casa de material, que, dividida, abrigou duas famílias.

Terceira: Organizou a produção de bichos da seda, para distribuição aos agricultores, o cultivo de amoreiras para alimentá-los e a extração dos fios de seda dos casulos.

Quarta: Organizou, no prédio destinado a criação de bicho da seda, a primeira exposição de uva e vinho de Bento Gonçalves.

Uma vez organizado procurou desenvolver atividades concernentes à sua função, administrando dentro dos limites da mão de obra disponível, que era abundante e de boa qualidade.

Para locomoção, meu pai tinha à sua disposição uma charrete e uma égua, uma carroça de quatro rodas e duas mulas.
(Silveira, o genro, Cecy a filha e Anna a esposa de charrete)
Charrete usada em Taquari


Quando chegamos a Bento Gonçalves em maio de 1948, a cidade tinha 4.000 mil habitantes e o interior 10.000, contando com S. Tereza e Monte Belo.

O calçamento ia da frente da Igreja Matriz de Santo Antônio até a escadaria da rua Marechal Deodoro com a Floriano Peixoto e da Deodoro pela Saldanha até a entrada da parte velha do hospital Tachini.

O Prefeito era o Milton Rosa, parente da minha mãe por sinal, não me lembro se era ele (minha mãe também era rosa), ou a esposa dele.

(Cecy na casa “nova” em Bento Gonçalves, com o jardim ainda “por fazer”)
Cecy na casa do Planalto em Bento Gonçalves no início dos anos 1950


(Em frente a casa, curtindo o domingo: Silveira, Cecy, Jacy e Eugênio)
Em frente a caso no Bairro Planalto em Bento Gonçalves


Para o lazer, a cidade contava com o Clube e o cinema Aliança, o Clube e cinema Ipiranga e o cinema dos padres (Vox Pópuli). O Hospital Tachini tinha somente a parte velha, com o Dr. Antonio e o Dr. Bozzetto, e o Hospital Giorgi, era atendido pelo próprio Dr. Giorgi.

Ferragens havia duas: Planalto e Fianco e loja com material de construção tinha a do Ernesto Dill. Também havia uma fábrica de sulfato de cobre do Dr. Péricles Barbosa, uma fábrica de bombas de sulfatar (Eletro Mecânica), a segunda residência do DAER, o grupo escolar Bento Gonçalves da Silva, os colégios dos maristas e das freiras, uma exatoria estadual e outra federal e uma fábrica de fogos de artifícios (“Atômica”).

(Cecy e Silveira chegando para uma visita, ao fundo vê-se a sede da Estação em Bento Gonçalves, hoje museu do imigrante)
Bairro Planalto em Bento Gonçalves no início dos anos 1950

(Prontos para passear: Eugênio, Anna, Cecy e Silveira)
Na frente da casa onde moraram no início dos anos 1950


As vinícolas sustentavam o município, pois cerca de 95% da renda era proveniente delas. Nessa época eram: Cia.Mônaco, Dreher, Aurora, S. Vinícola Riograndense, Salton, Fontanive, além das coloniais no interior do município.

As uvas vinificadas eram: Isabel, a grande maioria, Seibel nº2 e Seibel nº10096, Herbemonte, Concord e Bordeaux e as viníferas tintas cultivadas em pequena quantidade como: Barbeira e Bonarda, e as brancas: Trebiano, Peverela e Moscatel Branco. Como uva de mesa cultivavam-se Piróvanos e Moscatel de Hamburgo. Ligada à uva havia uma Estação Experimental de Viticultura e Enologia.

Bento Gonçalves era uma cidadezinha do interior onde todos se conheciam e se cumprimentavam ao passarem uns pelos outros na rua. Povo orgulhoso não aceitava com facilidade “forasteiros” como amigos (provavelmente com medo da concorrência). Meu pai sentiu o problema, apesar de ser muito bem recebido no comércio (pagava sempre à vista). Os poucos amigos que fez foram: Mario Mônaco, David Calegari e família, José Grazzia e alguns agricultores.

Por duas vezes o pessoal da Estação de Taquari, lotou um caminhão e veio até Bento fazer uma churrascada em homenagem ao meu pai, mostrando que era uma pessoa muita bem quista, e deixou saudades, enquanto que aqui, afora uns poucos, deixou apenas conhecidos.

(Visita às obras de construção da Ponte Ernesto Dornelles no Rio das Antas, Jacy, Cecy e Eugênio)
Visita a construcao da ponte "Ernesto Dornelles" no Rio das Antas no inicio da década de 1950


A política de deixar como está e apenas receber o salário no fim do mês, não era com meu pai, ele estudava os problemas, pensava em soluções e punha a situação em preto e branco para os chefes, desta maneira foi que, em 1952, resolveram transformar a Inspetoria de Sericicultura em Campo de Multiplicação de Árvores Frutíferas, por sugestão do meu pai. Isso porque, em aqui chegando, inteirou-se do tipo de serviço que vinha sendo realizado, verificando que os objetivos não vinham sendo alcançados, uma vez que estava sendo produzida uma mercadoria que ninguém mais queria (fios de seda).

Outro fato que apressou a mudança dos rumos foi o incêndio no prédio reservado à criação do bicho da seda, que acabou com toda a criação. Este prédio era uma estufa mal construída, que já existia antes da chegada do meu pai a Bento Gonçalves.

Feitas as mudanças, começaram a produzir mudas de árvores frutíferas e a vida para meu pai ficou muito movimentada, pois tinha que buscar material de trabalho na estação em Taquari e Farroupilha, nesta altura ele já tinha recebido um jipe para seu transporte, quem aprendeu primeiro a dirigir fui eu, depois ensinei o Giardino e o Archimedes. Meu pai tomou como motorista efetivo o Giardino, só em casos esporádicos, como nas férias, era o Archimedes, quem dirigia.

Depois que fizeram a mudança de Inspetoria de Sericicultura para Campo de Multiplicação de Árvores Frutíferas, meu pai não parou mais de trabalhar na colônia, de manhã e de tarde, visitando agricultores, para fazerem pomares de árvores frutíferas (laranja, pêssego, maçã, pêra e banana), produzidas nos viveiros do CMAF de BG, dirigido por ele. Se o colono aceitava, ele o Giardino e o Archimedes faziam a marcação do pomar, que variava em número de mudas desde 50 até 2.000, o número total de pomares estabelecidos foi de 2.300, distribuídos nos municípios de B. Gonçalves, a grande maioria (principalmente no distrito de Pinto Bandeira), Farroupilha, Veranópolis e Garibaldi.

Depois da marcação, ensinavam o agricultor a abrir as covas (terra de cima da cova para um lado e a de baixo para o outro, na hora de plantar fazer a inversão), depois das covas abertas, levavam as mudas para o colono plantar (aí ensinavam o colono a plantar), no ano seguinte ensinava a fazer poda de formação, e nos próximos a poda de frutificação.

Neste período de sua vida, praticamente não tinha tempo para mais nada, percorreu milhares de quilômetros nestas colônias, nem tempo de almoçar direito tinha.
Duvido que na época existisse pessoa mais conhecida, benquista e respeitada como homem e como técnico do que ele, no interior do município de B. Gonçalves. Além de fazer as marcações técnicas ele foi um verdadeiro professor de práticas agrícolas e familiares, ensinando inclusive, noções de higiene.

Foram anos de trabalheira, ele e o Giardino passaram com o jipe, aonde até as carroças tinham dificuldade, os dois eram muito valentes para poderem executar seu trabalho, em lugares que ninguém acreditava que pudessem. Com essa correria mais os cigarros, foram se agravando os problemas do coração do meu pai.

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domingo, 21 de março de 2010

O PRIMEIRO AUTOMÓVEL E RÁDIO


Depois que fomos morar na estação, nossa casa virou pensão: Antonio Roberto dos Santos, Urbano dos Santos (bem protegida), Álvaro Xavier, e outros.

Foi durante este período que meu pai comprou um fordeco, um modelo 1926, que funcionava perfeitamente, pegava no arranque da bateria, motor especial de bom, embreagem funcionando bem, primeira, segunda e marcha a ré certinha, acelerador de mão e faísca como deveriam quando estão certos, sistema de câmbio também, freio de pé e de mão certos, rodas e diferencial bem, e direção com muito pouca folga. Estofamento de couro e capota de lona novos. Para época, um carrinho para ninguém botar defeito.


Com o passar do tempo, a bateria descarregou, então, cada vez que tinha que sair, o ZÉ sempre tinha que trabalhar na manivela, no início com os pneus de tração no chão, depois um levantado no macaco, e mais tarde com os dois levantados, para ficar mais leve, para poder por o motor para funcionar, e então colocar o carro na lomba da faísca, tomar banho e botar roupa de passeio. Como era bom passear naquele carro, com o meu pai dirigindo, a minha mãe ia durinha do lado dele.

Quantas peripécias nas andanças com o fordeco, uma vez em que nós fomos visitar a vovó Chiquita (minha avó), na volta o carro não conseguia subir uma lomba muito forte, depois de várias tentativas, até de marcha á ré, tivemos que usar a velha junta de boi, que não tem embreagem e o acelerador é uma vara ou simplesmente um vai bragado!!!

Durante o carnaval no Alvinegro, tinha um dia em que saíamos para a rua pulando e íamos até a praia, fazer folia na frente da casa do seu Leopoldo, presidente vitalício do clube e que morava na rua da praia perto do porto. Uma vez meu pai acompanhou o corso com o fordeco, só em primeira, não deu outra, o carro ficou muito quente, e quando demos uma parada e abrimos o capô, o bloco do motor estava vermelho, esperamos um pouco, e quando voltou à cor normal, voltamos para o corso novamente e dele pular no carnaval.

Ele era um bom motorista, calmo, velocidade 25 km por hora, raramente 30km por hora, quando necessário usava a primeira. Eram três pedais, andando com tudo em cima era segunda marcha (marcha de estrada),apertando o pedal da esquerda, mudava de segunda para primeira (marcha de força, de arrancada, de parado para movimento); apertando o pedal do meio, engatava a marcha a ré; o pedal da direita era o freio mecânico de pé, além disso tinha o freio de mão, também mecânico. Motor quatro cilindros em linha, o tanque de gasolina ficava mais alto e a gasolina chegava ao motor por diferença de nível, o acelerador só abria ou fechava a entrada de gasolina no motor. Durou pouco tempo em nossas mãos, mas enquanto durou, nós aproveitamos bastante, no final meu pai o vendeu, e com o dinheiro deu para comprar um rádio RCA Vitor a bateria por 1500 cruzeiros.

Nota: O Modelo T foi produzido de 1908 até 1926, alcançando o fabuloso número de 15 milhões de carros produzidos. Número fantástico para a época, que só foi superado, bem mais tarde, pelo Fusca (Roberto Kayser – Fato Velho). 

Fonte da ilustração: Wikipedia

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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A MUDANÇA PARA A ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE POMICULTURA DE TAQUARI


A NOMEAÇÃO.

Meu pai ficou sabendo de sua nomeação para a Secretaria da Agricultura, pelo João Batista Guimarães, seu colega de turma na ETA, que lhe disse ter visto o documento em cima da mesa do diretor geral da Secretaria da Agricultura, então ele falou para o diretor que ele sabia onde encontrar meu pai, e prontamente recebeu esta incumbência.

No outro dia meu pai se apresentou ao diretor geral, fez os exames médicos e foi nomeado. Por poucos dias (o prazo era de trinta dias) não havia perdido a oportunidade de ser nomeado. Certas coisas acontecem na vida da gente, que não têm explicação, o Guimarães disse que não tinha nada o que fazer no gabinete do diretor, nem remexer casualmente na papelada em cima da mesa do mesmo, se não fosse isto, teria passado o prazo e meu pai teria perdido a nomeação.

Uma vez empoçado, foi designado para exercer suas funções na E.E. de Pomicultura de Taquari.
Nossa vida mudou por completo, fomos morar numa casa grande, com dois hectares de Nesta casa tínhamos uma vaca (a brasileira, comum, toda manchada de amarelo, boa produtora de leite), um cavalo baio para meu pai ir para a estação, e muitas árvores frutíferas, algumas nativas (goiaba branca, pitanga, araçá, etc.)

Algum tempo depois de nos instalarmos na nova moradia, meu pai ganhou um suposto amigo, que era o promotor público de Taquari, o promotor não queria amigos, queria ouvintes, gostava de ficar conversando até altas horas, mais discursava do que conversava, tudo bem quando meu pai somente ouvia, e dizia sim no momento oportuno. Porém, no dia seguinte meu pai levantava às cinco horas para ir trabalhar, enquanto seu ‘mui amigo’ promotor ficava dormindo até ao meio dia!!

A vida da minha mãe também ficou atrapalhada, porque ela ia ajudar a mulher do promotor que era uma pamonha, não sabia fazer nada, eu e a Cecy ficávamos meio de lado, nem meu pai nem minha mãe tinham mais tempo para nós, pois o promotor absorveu meu pai e a mulher dele a minha mãe.

Até no hotel eu e a Cecy fomos passar uns tempos por causa dessa amizade, houve um problema de doença na família dele, e minha mãe foi cuidar, como era contagiosa, para minha mãe não nos transmitir a doença, fomos para o hotel temporariamente.

O deslocamento do meu pai para a estação era sacrificante, pois precisava levantar muito cedo, levar marmita para almoçar, andar com chuva e frio, ficando às vezes o dia inteiro molhado.
Foram tantos os motivos que levaram meus pais a se mudarem para um casebre lá na estação, que a gente nem notou tanto a diferença de uma casa para a outra, a paz voltou a reinar na nossa família, meus pais até engordaram um pouco, eu fiz novos amigos (muito poucos, quase nenhum por sinal), mas a vida continuou, e estamos aqui para contar toda esta história.

Quem saiu perdendo com tudo isto, fui eu e a Cecy, colégios, amigos, e casa boa, mas somando e diminuindo tudo, também saímos ganhando, pois começou a sobrar um pouco de dinheiro, e meu pai pode internar minha irmã no colégio São José em Estrela.

UMA CASA NOVA

Mudamos para casa nova no princípio do ano de 1940, toda mobiliada com móveis novos, desde o escritório, sala-varanda, quarto de casal, de solteiro da Cecy, o meu com duas camas máquina e mesa de costura, e cozinha. Era uma beleza morar numa casa como esta, depois de ter morado mais de 3 anos naquela que também chamavam de casa.


Tinha também uma área onde nós botávamos as cadeiras preguiçosas, uma fabricada pelo meu pai, e outra que eu fabriquei (toda a madeira foi serrada e aplainada por mim), era muito boa, leve e cômoda de sentar (não é que a minha mãe deu a dita cuja para a Davilda sem me perguntar nada!), o que é que eu podia fazer! Não fiquei sabendo para quem deram os móveis velhos, tinha uma mesa de varanda que era uma beleza! Nem é bom pensar, tanta coisa antiga posta fora (Já imaginou? Se desfazer dos homens VÉIOS, eu estaria ralado!).

Esta casa nova tinha um pequeno porão, que era usado para guardar lenha, eu levava a lenha por uma escada até a porta da cozinha nos fundos da casa, para ser usada no fogão, no terreno abaixo da escada, tinha uma bela horta, cultivada pela minha mãe, na frente um jardim bonito, e dos lados cercas duplas de Ligustre, de um dos lados tinha um galinheiro onde minha mãe criava galinhas Rode Parmentier e do outro lado passagem para pedestres.

Nesta casa meu pai vivia satisfeito, minha mãe era muito cuidadosa, (depois de morar três anos numa casa sem conforto, ir morar numa casa como esta, foi uma alegria só). Também foi construído um açude com cinco metros de profundidade, cerca de cinquenta metros dos fundos desta casa,

A ROTINA DA ESTAÇÃO.

Com a chegada de mais funcionários graduados (Engenheiros Agrônomos e Tec. Rurais), meu pai ficou com menos responsabilidade em cima dos ombros e foi cuidar da construção de casas para os operários, inclusive construiu uma olaria com esta finalidade. Também cuidava das lavouras (milho, mandioca, etc.), do posto de monta e animais estabulados para tração (não existia trator na estação), e outros para a produção de leite. Existia também uma pocilga, tudo afinal, para melhorar a raça dos animais criados nos municípios próximos.

Outra responsabilidade que deram para meu pai foi a construção da nova casa do diretor, e da nova cede administrativa, depois de concluída cada construção, foi feito o cálculo do preço de custo, saiu 40% mais barato do que o apresentado pela concorrência mais barata.

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sábado, 6 de fevereiro de 2010

Vamos curtir o calor!



Agora são quinze horas e vinte e três minutos de uma tarde de verão, a temperatura está muito quente, na cozinha o termômetro está marcando vinte e sete graus centígrados, mas no alpendre mais de trinta e três e subindo.

Há muito tempo não sentíamos um verão tão quente, pelo menos nestes últimos dias de janeiro e início de fevereiro, mas isto é coisa de castelhano, assim como os dias muito frios são eles que nos mandam aquelas ondas polares insuportáveis, quando chega o calor também são eles que nos mandam todo esse fogaréu. Também vamos esperar o quê dos castelhanos, pois desde a ceia de Cristo, quando Ele disse, “antes de terminar a noite um de vocês vai me trair” e JUDAS se levantando perguntou: ACASO SEREI JO SEÑOR? Pois então já estamos sabendo que a coisa não é de hoje, é velha, velha a perder de vista!

A pior coisa que pode acontecer com a gente num dia de calor como este, é a preguiça, não dá vontade de fazer nada, até as letras saem devagar, teclamos uma possível palavra e olhamos para a tela, aí é que ela começa a ser gravada (oh escritor de meia tigela! Tu não achas que estás exagerando?), pois para teu governo, quando a coias começa a sair meio atravessada é porque tem praga de CASTELHANO NO MEIO.

Que desculpa vou dar agora, falta “volha” como diz o gringo ou é incapacidade mesmo, de por na tela aquilo que a gente pensa.

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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

FUTEBOL E CIGARRO

Meu pai gostava muito de futebol, ele fundou um time chamado “Praia Futebol Clube”, ensinou o pessoal a jogar e foi atuar como goleiro. Em pouco tempo começaram a ganhar do “Cidade Futebol Clube”, que ele também havia formado alguns anos antes.

Infelizmente, além do futebol, o fumo também o acompanhava. Quando eu era criança, ele usava o fumo em rama para fazer cigarro de palha ou de papel de seda.

Durante certos trechos da viagem ou à noite, quando atracado no porto, ele picava o fumo e guardava numa bolsinha de borracha para fazer, durante o dia, os cigarros que fumava (uma vez me falaram em 90 cigarros por dia), eram pequenos e queimavam ligeiro, mas “90” é uma “barbaridade”.


Em consequência do cigarro, o coração dele enfraqueceu e, como ele era muito emotivo, a copa de 70 deu a sentença final, poucos dias após a vitória da seleção Brasileira no México, ele morreu.
Além do futebol, gostava de jogar cartas, o que na velhice costumava fazer com a nora e os netos, só como passatempo, sem nunca ter apostado dinheiro.

Não gostava de dançar, mas apreciava um baile para tomar um copo de cerveja. Não costumava tomar bebida alcoólica em casa, nem em outros lugares que não fosse por um motivo muito especial.

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domingo, 3 de janeiro de 2010

O GUARDA NOTURNO DA ESTAÇÃO

Na Estação Experimental de Pomicultura de Taquari, praticamente só tinha uma grande coleção de citros (laranjeiras, bergamoteiras e limões), donde tiravam as borbulhas para a enxertia, cujos enxertos eram distribuídos gratuitamente por todo o estado do Rio Grande do Sul.

Quando meu pai foi trabalhar lá, estavam começando uma coleção de pessegueiros, de macieiras, de pereiras, de figueiras, e de mamoeiros. Recém estava começando a produção de mudas de pessegueiros e outras frutíferas.

Acontece que começaram a notar que gente de fora estava roubando frutas, que faziam parte das experimentações sobre produção por variedade. Com os roubos, o técnico que estava trabalhando no assunto perdia o controle dos seus experimentos, por isso resolveram criar um quadro de guardas noturno, com o próprio quadro de diaristas já existente, aqueles que quisessem seriam incluídos neste quadro e teriam vantagens salariais. Formado o quadro, foi organizada uma escala mensal. Os peões ganhavam um salário extra no mês em que trabalhavam à noite

Foram fixados diversos relógios-ponto, em que os guardas deveriam dar corda de hora em hora com uma chave que girava num lugar certo do relógio, para marcar sua presença. Se não me engano, eram nove relógios-ponto: nos dois portões de entrada para a estação, no viveiro de mudas, no pomar de laranjeiras, no pomar de macieiras, no estábulo, etc...

Quando começou a funcionar esse novo serviço na estação, os guardas achavam que carregar uma espingarda a tiracolo, além de muito pesado, não era muito prático, pois se houvesse um imprevisto qualquer, até eles colocarem a espingarda em posição de ataque ou defesa, o ladrão teria escapado ou atacado sem dar chances de defesa ao guarda.

Como o meu pai tinha um revolver usado em casa, foi feita a troca, os guardas passaram a carregar um revolver na cintura, muito mais prático e leve e isto lhes deu maior confiança. O revolver era um 38 velho que meu pai havia herdado, mas que funcionava bem.


O episódio que vou contar aconteceu numa determinada noite em que o Quincas estava de guarda numa sexta-feira. Durante sua guarda ele tinha que dar corda num relógio que ficava dentro do estábulo, onde os animais de tração eram forrageados, justamente à meia noite.

O guarda deu corda no relógio e já ia saindo quando ouviu um barulho no girau, foi verificar o que havia, com a lanterna na mão esquerda e o revólver em posição de combate na mão direita. Começou a subir a escada que levava até o girau, pé ante pé, mas, de repente, não mais que de repente, surgiram dois focos iluminados que pareciam duas tochas de fogo e vieram por cima dele. Assustado, ele puxou o gatilho e tentou fazer fogo, mas o revolver falhou, pois no nervosismo ele puxou o gatilho com tanta força que descontrolou a velocidade do tambor em relação à velocidade com que a agulha deveria bater na espoleta. Assim a agulha bateu fora da espoleta e não detonou o cartucho, ficou tudo torto, de maneira que o tiro não saiu e o revolver nunca mais prestou!!.

O vulto assustador passou por ele sem atacar e sumiu na noite. Na mesma hora, o Quincas foi falar com o meu pai que era o único funcionário graduado que morava na estação, entregou a lanterna, as chaves de dar corda nos relógios, o revólver e disse: “Não dou mais guarda!” Meu pai achou, pelo seu estado, que o coitado tinha se borrado todo.

No outro dia, quando foram verificar o que tinha acontecido, perceberam que havia sido um cachorro grande que estava no girau comendo milho. O cachorro saiu ileso da aventura, mas o peão que estava de vigia nunca mais quis atuar como guarda noturno.
MAS QUE SUSTO TCHÊ!

Ilustração "Não tente tirar a Lua do fundo do Mar" de Miguel Cordeiro Arquivos

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