domingo, 21 de março de 2010

O PRIMEIRO AUTOMÓVEL E RÁDIO


Depois que fomos morar na estação, nossa casa virou pensão: Antonio Roberto dos Santos, Urbano dos Santos (bem protegida), Álvaro Xavier, e outros.

Foi durante este período que meu pai comprou um fordeco, um modelo 1926, que funcionava perfeitamente, pegava no arranque da bateria, motor especial de bom, embreagem funcionando bem, primeira, segunda e marcha a ré certinha, acelerador de mão e faísca como deveriam quando estão certos, sistema de câmbio também, freio de pé e de mão certos, rodas e diferencial bem, e direção com muito pouca folga. Estofamento de couro e capota de lona novos. Para época, um carrinho para ninguém botar defeito.


Com o passar do tempo, a bateria descarregou, então, cada vez que tinha que sair, o ZÉ sempre tinha que trabalhar na manivela, no início com os pneus de tração no chão, depois um levantado no macaco, e mais tarde com os dois levantados, para ficar mais leve, para poder por o motor para funcionar, e então colocar o carro na lomba da faísca, tomar banho e botar roupa de passeio. Como era bom passear naquele carro, com o meu pai dirigindo, a minha mãe ia durinha do lado dele.

Quantas peripécias nas andanças com o fordeco, uma vez em que nós fomos visitar a vovó Chiquita (minha avó), na volta o carro não conseguia subir uma lomba muito forte, depois de várias tentativas, até de marcha á ré, tivemos que usar a velha junta de boi, que não tem embreagem e o acelerador é uma vara ou simplesmente um vai bragado!!!

Durante o carnaval no Alvinegro, tinha um dia em que saíamos para a rua pulando e íamos até a praia, fazer folia na frente da casa do seu Leopoldo, presidente vitalício do clube e que morava na rua da praia perto do porto. Uma vez meu pai acompanhou o corso com o fordeco, só em primeira, não deu outra, o carro ficou muito quente, e quando demos uma parada e abrimos o capô, o bloco do motor estava vermelho, esperamos um pouco, e quando voltou à cor normal, voltamos para o corso novamente e dele pular no carnaval.

Ele era um bom motorista, calmo, velocidade 25 km por hora, raramente 30km por hora, quando necessário usava a primeira. Eram três pedais, andando com tudo em cima era segunda marcha (marcha de estrada),apertando o pedal da esquerda, mudava de segunda para primeira (marcha de força, de arrancada, de parado para movimento); apertando o pedal do meio, engatava a marcha a ré; o pedal da direita era o freio mecânico de pé, além disso tinha o freio de mão, também mecânico. Motor quatro cilindros em linha, o tanque de gasolina ficava mais alto e a gasolina chegava ao motor por diferença de nível, o acelerador só abria ou fechava a entrada de gasolina no motor. Durou pouco tempo em nossas mãos, mas enquanto durou, nós aproveitamos bastante, no final meu pai o vendeu, e com o dinheiro deu para comprar um rádio RCA Vitor a bateria por 1500 cruzeiros.

Nota: O Modelo T foi produzido de 1908 até 1926, alcançando o fabuloso número de 15 milhões de carros produzidos. Número fantástico para a época, que só foi superado, bem mais tarde, pelo Fusca (Roberto Kayser – Fato Velho). 

Fonte da ilustração: Wikipedia

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