terça-feira, 12 de janeiro de 2010

FUTEBOL E CIGARRO

Meu pai gostava muito de futebol, ele fundou um time chamado “Praia Futebol Clube”, ensinou o pessoal a jogar e foi atuar como goleiro. Em pouco tempo começaram a ganhar do “Cidade Futebol Clube”, que ele também havia formado alguns anos antes.

Infelizmente, além do futebol, o fumo também o acompanhava. Quando eu era criança, ele usava o fumo em rama para fazer cigarro de palha ou de papel de seda.

Durante certos trechos da viagem ou à noite, quando atracado no porto, ele picava o fumo e guardava numa bolsinha de borracha para fazer, durante o dia, os cigarros que fumava (uma vez me falaram em 90 cigarros por dia), eram pequenos e queimavam ligeiro, mas “90” é uma “barbaridade”.


Em consequência do cigarro, o coração dele enfraqueceu e, como ele era muito emotivo, a copa de 70 deu a sentença final, poucos dias após a vitória da seleção Brasileira no México, ele morreu.
Além do futebol, gostava de jogar cartas, o que na velhice costumava fazer com a nora e os netos, só como passatempo, sem nunca ter apostado dinheiro.

Não gostava de dançar, mas apreciava um baile para tomar um copo de cerveja. Não costumava tomar bebida alcoólica em casa, nem em outros lugares que não fosse por um motivo muito especial.

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domingo, 3 de janeiro de 2010

O GUARDA NOTURNO DA ESTAÇÃO

Na Estação Experimental de Pomicultura de Taquari, praticamente só tinha uma grande coleção de citros (laranjeiras, bergamoteiras e limões), donde tiravam as borbulhas para a enxertia, cujos enxertos eram distribuídos gratuitamente por todo o estado do Rio Grande do Sul.

Quando meu pai foi trabalhar lá, estavam começando uma coleção de pessegueiros, de macieiras, de pereiras, de figueiras, e de mamoeiros. Recém estava começando a produção de mudas de pessegueiros e outras frutíferas.

Acontece que começaram a notar que gente de fora estava roubando frutas, que faziam parte das experimentações sobre produção por variedade. Com os roubos, o técnico que estava trabalhando no assunto perdia o controle dos seus experimentos, por isso resolveram criar um quadro de guardas noturno, com o próprio quadro de diaristas já existente, aqueles que quisessem seriam incluídos neste quadro e teriam vantagens salariais. Formado o quadro, foi organizada uma escala mensal. Os peões ganhavam um salário extra no mês em que trabalhavam à noite

Foram fixados diversos relógios-ponto, em que os guardas deveriam dar corda de hora em hora com uma chave que girava num lugar certo do relógio, para marcar sua presença. Se não me engano, eram nove relógios-ponto: nos dois portões de entrada para a estação, no viveiro de mudas, no pomar de laranjeiras, no pomar de macieiras, no estábulo, etc...

Quando começou a funcionar esse novo serviço na estação, os guardas achavam que carregar uma espingarda a tiracolo, além de muito pesado, não era muito prático, pois se houvesse um imprevisto qualquer, até eles colocarem a espingarda em posição de ataque ou defesa, o ladrão teria escapado ou atacado sem dar chances de defesa ao guarda.

Como o meu pai tinha um revolver usado em casa, foi feita a troca, os guardas passaram a carregar um revolver na cintura, muito mais prático e leve e isto lhes deu maior confiança. O revolver era um 38 velho que meu pai havia herdado, mas que funcionava bem.


O episódio que vou contar aconteceu numa determinada noite em que o Quincas estava de guarda numa sexta-feira. Durante sua guarda ele tinha que dar corda num relógio que ficava dentro do estábulo, onde os animais de tração eram forrageados, justamente à meia noite.

O guarda deu corda no relógio e já ia saindo quando ouviu um barulho no girau, foi verificar o que havia, com a lanterna na mão esquerda e o revólver em posição de combate na mão direita. Começou a subir a escada que levava até o girau, pé ante pé, mas, de repente, não mais que de repente, surgiram dois focos iluminados que pareciam duas tochas de fogo e vieram por cima dele. Assustado, ele puxou o gatilho e tentou fazer fogo, mas o revolver falhou, pois no nervosismo ele puxou o gatilho com tanta força que descontrolou a velocidade do tambor em relação à velocidade com que a agulha deveria bater na espoleta. Assim a agulha bateu fora da espoleta e não detonou o cartucho, ficou tudo torto, de maneira que o tiro não saiu e o revolver nunca mais prestou!!.

O vulto assustador passou por ele sem atacar e sumiu na noite. Na mesma hora, o Quincas foi falar com o meu pai que era o único funcionário graduado que morava na estação, entregou a lanterna, as chaves de dar corda nos relógios, o revólver e disse: “Não dou mais guarda!” Meu pai achou, pelo seu estado, que o coitado tinha se borrado todo.

No outro dia, quando foram verificar o que tinha acontecido, perceberam que havia sido um cachorro grande que estava no girau comendo milho. O cachorro saiu ileso da aventura, mas o peão que estava de vigia nunca mais quis atuar como guarda noturno.
MAS QUE SUSTO TCHÊ!

Ilustração "Não tente tirar a Lua do fundo do Mar" de Miguel Cordeiro Arquivos

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