segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Na casa dos Azeredo


Jacy (esq.) e Cecy (dir) antes da mudança para casa dos Azeredo.

Foi enquanto morávamos na casa dos Azeredo que eu me lembro de ter começado a jogar bolinha (bolinha de inhaque ou gude), modéstia à parte, me tornei talvez o melhor da cidade, pois não perdia para ninguém.

Além da bolinha comecei com as velhas peladas entre a gurizada, outros brinquedos como soldado ladrão, eu era bom para subir em árvores (desde que minha mãe não estivesse por perto, ela ficava nervosa e começava a gritar para eu descer).

As árvores altas eram um bom lugar para a gente se esconder, então tínhamos tempo de ver os soldados e no momento oportuno, descer para bater no ponto da liberdade.

Eu e minha irmã não brincávamos muito um com o outro, pois ela tinha as amigas gurias e eu os meus amigos guris, vamos ver se me lembro do nome de alguns deles: Rui Guimarães, Arai e Rubens Schnaider, Lauro Farias, e muitos outros cujos nomes não me vem à memória agora, como é o caso dos filhos do seu Jacuim (Joaquim).

Jogo de bola de gude (Pedro Veiga)

Neste período em que moramos na casa dos Azeredo, foi que comecei a ir a escola, aprendi a ler e escrever, eu era o menor de todos, inclusive em idade. A dona NINI era a nossa professora e comandava uma aula com “70” alunos do primeiro ao oitavo livro, tendo como ajudante apenas uma régua de louro com 50 cm de comprimento, boa largura e grossura, a gente respeitava tanto a titular como a assistente.

Imagina só que tipo de aula a coitada podia dar, mas a gente aprendia a ler e escrever, pois não é que eu estou aqui? No ano seguinte ela arrumou uma moça para ajudá-la a tomar a lição dos alunos. 

Esta casa estava localizada numa rua perpendicular a rua principal do bairro, e ficava aproximadamente a 50 metros da mesma, esta rua ia direto ao campo de futebol da cidade onde joguei muitas peladas; ao lado da casa tinha um pátio grande onde estavam localizados a latrina e um poço que fornecia água para a residência, só que a gente tinha que puchar a água com um balde, (por meio de uma manivela), que servia para fazer a comida e tomar banho numa bacia grande, era um local onde se brincava pois tinha sombra bastante.

A casa ficava entre as das principais famílias que moravam neste bairro : a do Sr. Leopoldo Arnt, por ser o dono da navegação Arnt, era a família mais importante e influente economicamente e por sinal gostava muito de carnaval, era o presidente vitalício do Grêmio Recreativo Alvinegro.

Foi nesta sociedade que eu vi meus primeiros filmes, eram mudos; a do seu Osvaldo coelho que era o dono do armazém de secos e molhados, era gago; na outra esquina o Caetano, barbeiro, também gago, pois numa certa ocasião, um cidadão entrou no armazém do seu Osvaldo e perguntou onde estava um determinado arreio, então o seu Osvaldo informou que o arreio estava na casa do seu Benman.

O homem se dirigiu naquela direção, mas o Caetano ouviu o recado que estava errado e então deixou o cliente sentado na cadeira, saiu à rua para corrigir a situação, então os dois gagos quiseram chamar o homem de volta, mas não saia som inteligível, era só aquela gagueira, tanto que o homem foi até a casa do seu Benman e voltou, enquanto o dois, um em cada esquina, faziam gestos misturados com palavras ininteligíveis.     

Por Jacy Franck

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