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Galos no rinheiro |
Meu tio Tonho era o irmão mais brincalhão da família da
minha mãe e, dos homens, ele era o “irmão do meio”. Quando eu o conheci, ele
era solteiro e não “tinha paradeiro”, ou seja, era uma espécie de nômade. Trabalhou
na roça, nos barcos da Cia Arnt no rio Taquari e também passou um tempo
trabalhando no porto em P. Alegre.
Eu já o conhecia a um “tempinho” quando ele se casou com a
Paulina, que era uma moça muito alegre e gostava de mexer comigo. Nesta época,
eu já tinha uns cinco anos [1] e sabia cantar uma canção em que uma das estrofes
dizia: “A lua, a lua não é mais formosa”, ela deitava e rolava me imitando e
todo mundo dava boas risadas.
O tio Tonho não poderia ter arrumado uma esposa que se
harmonizasse melhor com ele do que esta, geralmente os dois riam juntos. Após o
casamento, ele resolveu “sossegar o pito”, e instalou uma bodega, cujo maior estoque
era de cachaça. Junto à bodega, ele construiu um “rinhadeiro”[2] e uma criação
de galos de rinha, de modo que, aos domingos, rolava rinha de galo e cachaça!
A Paulina era uma boa
ajudante e se divertia junto com ele atraindo para o rinhadeiro, as esposas dos
aficionados daquele esporte (se é que rinha de galo possa ser chamada de
esporte), o que, para eles, era um ótimo passa-tempo.
Assim ele e a Paulina iam levando uma vida mansa com boas
risadas, até que um dia aconteceu um ataque de abelhas africanas ao galinheiro
dos galos de rinha. Em meio ao ataque, o tio Tonho tentou salvar os galos,
retirando-os das gaiolas, porém as abelhas se viraram contra ele, e aí foi um
Deus nos acuda!
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Abelhas africanas por Fiocruz |
A Paulina, com um lençol, tentou livrá-lo do bicharedo, mas
ele já tinha levado umas quarenta ferroadas, desmaiando. Se não fosse o pronto
atendimento médico, ele teria morrido envenenado.
Supõe-se que a causa do ataque tenha sido o barulho
provocado por uma bandinha de alunos de um colégio próximo, que estava se
preparando para a semana da pátria. Naquela época as abelhas africanas
costumavam se irritar com o barulho, e atacavam qualquer ser vivo que estivesse
por perto [3].
Autor: Jacy Franck
Revisão: Gladis
Franck da Cunha
Notas:
[1]- Entre 1931 e 1932.
[2] – rinhadeiro
– é uma espécie de ringue onde os galos se enfrentavam.
[3]- nota da revisora:
Com o passar do tempo, as abelhas africanas foram se cruzando com as européias
e, atualmente, o Rio Grande do Sul possui enxames de abelhas africanizadas, que
são mais brabas que as européias, mas menos furiosas que as africanas, por este
motivo os casos de ataque de abelhas foram diminuindo ao longo dos anos até se
tornarem muito raros.
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Retirada de enxame |
Hoje em dia, é preciso mais do que o ensaio de uma banda
de música para desencadear um ataque, que, em geral, só ocorre quando as
abelhas têm o seu território invadido, por este motivo, a profilaxia para evitar
ataques consiste em retirar os enxames que se instalam em zonas urbanas ou
muito próximos a residências. Essa remoção de enxames deve ser realizada por
especialistas com equipamentos adequados.
Além disso, recomenda-se que em
passeios ao campo, levem-se anti-histamínicos para tratamento imediato de algum
eventual ataque de abelhas.
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