Antes do Milagre Brasileiro, iniciado em 1968, quando houve um expressivo crescimento econômico, a mecanização da agricultura no Rio Grande do Sul era mínima e a tração animal era a regra.
Assim, todo pequeno agricultor criava as vacas para o abastecimento de leite e um ou dois touros ou bois para puxar arado e carreta. Em geral, utilizava-se um touro, que servia também como reprodutor, mais um boi que se tornava mais calmo por ser castrado.
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Ataque de touro |
Meu tio João tinha conseguido criar um touro manso para puxar carreta e arado. Ele era relativamente pequeno, de cor amarelada, guampa curta e atendia pelo nome de “Brasino”. Seu companheiro era o “Bragado”, que já não era mais touro, pois tinha sido castrado fazia algum tempo. O Bragado era muito manso pela sua condição de velho e castrado.
O tio João costumava botar os dois “a soga”, quando sabia que ia precisar deles para algum serviço. Ou seja, ele fincava uma estaca funda no chão e amarrava o animal a ela, permitindo que eles pastassem em torno da estaca e fosse mais fácil pegá-los para utilizar no arado ou carreta.
Esse era o costume e tudo corria bem. Porém, um dia quando meu tio foi pegar o touro Brasino, ele se enfezou, e investiu contra ele, derrubando-o no chão e fazendo-o perder os sentidos.
Felizmente, ao cair, meu tio rolou no chão ficando ao alcance apenas de ser raspado pelas guampas do touro. Quando ele voltou a si, já estava com a barriga toda riscada pelas “aspadas” que levou do touro. Sua sorte foi que a corda que segurava o touro era nova e a estaca era forte e estava bem cravada na terra.
Se o meu tio agiu de forma inusitada para enfezar o bicho, ele nunca contou, mas é fato que os touros são imprevisíveis e quando a gente menos espera, eles avançam. Geralmente, quando o fazem, eles são capazes de causar estragos bem grandes com suas investidas.
Como bom gaúcho, depois desse episódio, meu tio João fez um belo churrasco. A fonte da carne vocês podem imaginar!