Arte de Ivan Cruz, fonte da ilustração blog Vento Nordeste |
Numa esquina tinha a casa da Dona Nini e na outra esquina a do seu Felipe Coch, entre elas as casas geminadas, sendo que em uma delas nós morávamos, a que ficava ao lado daquela do seu Felipe.
Depois que fomos morar nesta casa, comecei a soltar pandorga (pipa), o lugar preferido era o morro dos Tridirich, mas um dia fui soltá-la na rua, enquanto corria para tentar fazê-la levantar vôo, vinha olhando para traz, e justo no momento em que eu olhei para frente, tinha um velho plátano à espera da minha cara, a pancada foi horrível, até hoje, oitenta anos depois, ainda me lembro dela.
No morro dos Tridirich nós fazíamos uma espécie de trenó para descer morro abaixo, o diabo era levar o bicho até lá em cima, porque lá de cima até em baixo era uma beleza, a parada era no meio do mato.
O espaço de tempo e grande parte dos acontecimentos vividos por nós enquanto morávamos nestas duas casas, se confundem um pouco, portanto não sabemos precisar se foi enquanto morávamos nesta ou naquela, como a passagem de tropas de bois brabos, tropas de provisórios que lutavam durante as revoluções de trinta e trinta e dois e outras escaramuças da gauchada, guerra na praça da bandeira entre a gurizada da praia e da cidade alta.
Neste período de tempo nós viajamos muito de barco fluvial (chamado também de “VAPOR”, porque eram impulsionados por máquinas a vapor d’água, produzidos por aquecimento a lenha), havia outros barcos que nós chamávamos de GASOLINA, porque eram movidos por motores à gasolina, era o caso da Bom Retiro.
Outros fatos que marcaram este tempo, foram às enchentes no rio Taquari, as águas subiam barranco acima e transbordavam, a gente ia brincar nestas águas e nem se dava conta dos perigos de sermos levados pelas correntes, atacados por cobras, e outros bichos peçonhentos, meu pai sempre dizia: "Guri é bicho do diabo protegido por Deus!"
Lembranças e texto de Jacy Franck
revisão e ilustração Gladis Franck da Cunha!