quarta-feira, 18 de maio de 2016

O Lemãozinho, as Pnadorgas e outras brincadeiras infantis!


Arte de Ivan Cruz, fonte da ilustração blog Vento Nordeste
Não faço idéia de quantos anos moramos na casa dos Azeredo, porque algum tempo depois, fomos morar na rua principal do bairro, numa casa geminada, só tinha porta de entrada na frente e duas janelas, uma porta nos fundos e duas janelas, o meu quarto não tinha janela para a rua, mas a casa tinha um pátio comprido onde jogávamos futebol com bola de meia.

Numa esquina tinha a casa da Dona Nini e na outra esquina a do seu Felipe Coch, entre elas as casas geminadas, sendo que em uma delas nós morávamos, a que ficava ao lado daquela do seu Felipe.

Depois que fomos morar nesta casa, comecei a soltar pandorga (pipa), o lugar preferido era o morro dos Tridirich, mas um dia fui soltá-la na rua, enquanto corria para tentar fazê-la levantar vôo, vinha olhando para traz, e justo no momento em que eu olhei para frente, tinha um velho plátano à espera da minha cara, a pancada foi horrível, até hoje, oitenta anos depois, ainda me lembro dela.

No morro dos Tridirich nós fazíamos uma espécie de trenó para descer morro abaixo, o diabo era levar o bicho até lá em cima, porque lá de cima até em baixo era uma beleza, a parada era no meio do mato.

O espaço de tempo e grande parte dos acontecimentos vividos por nós enquanto morávamos nestas duas casas, se confundem um pouco, portanto não sabemos precisar se foi enquanto morávamos nesta ou naquela, como a passagem de tropas de bois brabos, tropas de provisórios que lutavam durante as revoluções de trinta e trinta e dois e outras escaramuças da gauchada, guerra na praça da bandeira entre a gurizada da praia e da cidade alta.

Neste período de tempo nós viajamos muito de barco fluvial (chamado também de “VAPOR”, porque eram impulsionados por máquinas a vapor d’água, produzidos por aquecimento a lenha), havia outros barcos que nós chamávamos de GASOLINA, porque eram movidos por motores à gasolina, era o caso da Bom Retiro.

Outros fatos que marcaram este tempo, foram às enchentes no rio Taquari, as águas subiam barranco acima e transbordavam, a gente ia brincar nestas águas e nem se dava conta dos perigos de sermos levados pelas correntes, atacados por cobras, e outros bichos peçonhentos, meu pai sempre dizia: "Guri é bicho do diabo protegido por Deus!"

Lembranças e texto de Jacy Franck
revisão e ilustração Gladis Franck da Cunha!

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Na casa dos Azeredo


Jacy (esq.) e Cecy (dir) antes da mudança para casa dos Azeredo.

Foi enquanto morávamos na casa dos Azeredo que eu me lembro de ter começado a jogar bolinha (bolinha de inhaque ou gude), modéstia à parte, me tornei talvez o melhor da cidade, pois não perdia para ninguém.

Além da bolinha comecei com as velhas peladas entre a gurizada, outros brinquedos como soldado ladrão, eu era bom para subir em árvores (desde que minha mãe não estivesse por perto, ela ficava nervosa e começava a gritar para eu descer).

As árvores altas eram um bom lugar para a gente se esconder, então tínhamos tempo de ver os soldados e no momento oportuno, descer para bater no ponto da liberdade.

Eu e minha irmã não brincávamos muito um com o outro, pois ela tinha as amigas gurias e eu os meus amigos guris, vamos ver se me lembro do nome de alguns deles: Rui Guimarães, Arai e Rubens Schnaider, Lauro Farias, e muitos outros cujos nomes não me vem à memória agora, como é o caso dos filhos do seu Jacuim (Joaquim).

Jogo de bola de gude (Pedro Veiga)

Neste período em que moramos na casa dos Azeredo, foi que comecei a ir a escola, aprendi a ler e escrever, eu era o menor de todos, inclusive em idade. A dona NINI era a nossa professora e comandava uma aula com “70” alunos do primeiro ao oitavo livro, tendo como ajudante apenas uma régua de louro com 50 cm de comprimento, boa largura e grossura, a gente respeitava tanto a titular como a assistente.

Imagina só que tipo de aula a coitada podia dar, mas a gente aprendia a ler e escrever, pois não é que eu estou aqui? No ano seguinte ela arrumou uma moça para ajudá-la a tomar a lição dos alunos. 

Esta casa estava localizada numa rua perpendicular a rua principal do bairro, e ficava aproximadamente a 50 metros da mesma, esta rua ia direto ao campo de futebol da cidade onde joguei muitas peladas; ao lado da casa tinha um pátio grande onde estavam localizados a latrina e um poço que fornecia água para a residência, só que a gente tinha que puchar a água com um balde, (por meio de uma manivela), que servia para fazer a comida e tomar banho numa bacia grande, era um local onde se brincava pois tinha sombra bastante.

A casa ficava entre as das principais famílias que moravam neste bairro : a do Sr. Leopoldo Arnt, por ser o dono da navegação Arnt, era a família mais importante e influente economicamente e por sinal gostava muito de carnaval, era o presidente vitalício do Grêmio Recreativo Alvinegro.

Foi nesta sociedade que eu vi meus primeiros filmes, eram mudos; a do seu Osvaldo coelho que era o dono do armazém de secos e molhados, era gago; na outra esquina o Caetano, barbeiro, também gago, pois numa certa ocasião, um cidadão entrou no armazém do seu Osvaldo e perguntou onde estava um determinado arreio, então o seu Osvaldo informou que o arreio estava na casa do seu Benman.

O homem se dirigiu naquela direção, mas o Caetano ouviu o recado que estava errado e então deixou o cliente sentado na cadeira, saiu à rua para corrigir a situação, então os dois gagos quiseram chamar o homem de volta, mas não saia som inteligível, era só aquela gagueira, tanto que o homem foi até a casa do seu Benman e voltou, enquanto o dois, um em cada esquina, faziam gestos misturados com palavras ininteligíveis.     

Por Jacy Franck

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sábado, 27 de outubro de 2012

A mudança para Porto Gomes (Lemãozinho trabalheiro - parte 2)


A mudança para Porto Gomes foi por causa do barco que meu pai foi comandar, de nome Bom Retiro, que fazia o serviço de carga e descarga entre Encantado e Taquari.
Barco à vapor imagem de Alberto Roura

Desta fase da vida, eu pessoalmente me lembro de alguns episódios, pelo menos para mim interessantes, como da minha primeira namorada de nome Inês, formávamos um par fora do normal, pois ela tinha aproximadamente uns 23 anos e eu quatro, mas enquanto ficamos morando lá em Porto Gomes, não me lembro de termos rompido com o tal do namoro, namoro este que eu mantinha com uma dedicação a toda prova, pois um dia carregando lenha para que ela mantivesse o fogão aceso, disse: “Viu Inês como o teu lemãozinho é trabalheiro”, tanta dedicação merecia uma retribuição que sempre apreciei como verdadeira.

Um fato que está presente na minha memória é o do carroceiro Ludvick, era um homem grande e gordo, de origem alemã, natural de Venâncio-Aires, ele guiava uma carroça puxada por seis mulas, na mão esquerda segurava as rédeas e na direita um enorme chicote que ele empunhava como quem entende do oficio (coitadas das mulas), além do chicote tinha uma voz possante e por da cá aquela palha, dava umas gargalhadas que ecoavam por quilômetros de distancia. Meu pai se dava muito bem com ele e eu gostava de ouvi-los conversar.
Carroças puxada por várias mulas eram usadas para o transporte.
(Esta da foto pertenceu à Família Crestani)

Outro fato que marcou minha lembrança enquanto morávamos em P.Gomes, foi o Osório, ele era um desequilibrado mental, vivia por lá, não sei bem como, mas minha mãe liderou uma rifa, para comprarem uma gaita de foles para ele, dizem que deste momento em diante não largou mais a tal da gaita, eu me lembro de ouvi-lo tocar o dito cujo instrumento, sentado numa latrina com a porta aberta, é lógico que eu não posso dizer o que tocava, apenas me lembro que era aquele instrumento que ele tinha ganhado de presente, que emitia o som que ouvíamos.

Quando chegou da Alemanha, o barco que a Cia. Arnt queria dar para o meu pai comandar, tivemos que nos mudar novamente para Taquari, porque o trajeto feito pelo barco seria entre Taquari e Porto Alegre. Nesta época eu deveria estar com aproximadamente cinco anos e fomos morar na famosa casa dos Azeredo.

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terça-feira, 15 de maio de 2012

TIO TONHO, OS GALOS DE RINHA E AS ABELHAS AFRICANAS!


Galos no rinheiro

Meu tio Tonho era o irmão mais brincalhão da família da minha mãe e, dos homens, ele era o “irmão do meio”. Quando eu o conheci, ele era solteiro e não “tinha paradeiro”, ou seja, era uma espécie de nômade. Trabalhou na roça, nos barcos da Cia Arnt no rio Taquari e também passou um tempo trabalhando no porto em P. Alegre.

Eu já o conhecia a um “tempinho” quando ele se casou com a Paulina, que era uma moça muito alegre e gostava de mexer comigo. Nesta época, eu já tinha uns cinco anos [1] e sabia cantar uma canção em que uma das estrofes dizia: “A lua, a lua não é mais formosa”, ela deitava e rolava me imitando e todo mundo dava boas risadas.

O tio Tonho não poderia ter arrumado uma esposa que se harmonizasse melhor com ele do que esta, geralmente os dois riam juntos. Após o casamento, ele resolveu “sossegar o pito”, e instalou uma bodega, cujo maior estoque era de cachaça. Junto à bodega, ele construiu um “rinhadeiro”[2] e uma criação de galos de rinha, de modo que, aos domingos, rolava rinha de galo e cachaça!

 A Paulina era uma boa ajudante e se divertia junto com ele atraindo para o rinhadeiro, as esposas dos aficionados daquele esporte (se é que rinha de galo possa ser chamada de esporte), o que, para eles, era um ótimo passa-tempo.

Assim ele e a Paulina iam levando uma vida mansa com boas risadas, até que um dia aconteceu um ataque de abelhas africanas ao galinheiro dos galos de rinha. Em meio ao ataque, o tio Tonho tentou salvar os galos, retirando-os das gaiolas, porém as abelhas se viraram contra ele, e aí foi um Deus nos acuda!

Abelhas africanas por Fiocruz

A Paulina, com um lençol, tentou livrá-lo do bicharedo, mas ele já tinha levado umas quarenta ferroadas, desmaiando. Se não fosse o pronto atendimento médico, ele teria morrido envenenado.

Supõe-se que a causa do ataque tenha sido o barulho provocado por uma bandinha de alunos de um colégio próximo, que estava se preparando para a semana da pátria. Naquela época as abelhas africanas costumavam se irritar com o barulho, e atacavam qualquer ser vivo que estivesse por perto [3].


 E os galos do tio Tonho? Dos quarenta que ele criava, cerca de dez morreram em conseqüência das picadas de abelhas.
  
Autor: Jacy Franck
Revisão: Gladis Franck da Cunha

Notas:
[1]- Entre 1931 e 1932.

[2] – rinhadeiro – é uma espécie de ringue onde os galos se enfrentavam.

[3]- nota da revisora: Com o passar do tempo, as abelhas africanas foram se cruzando com as européias e, atualmente, o Rio Grande do Sul possui enxames de abelhas africanizadas, que são mais brabas que as européias, mas menos furiosas que as africanas, por este motivo os casos de ataque de abelhas foram diminuindo ao longo dos anos até se tornarem muito raros. 
Retirada de enxame

Hoje em dia, é preciso mais do que o ensaio de uma banda de música para desencadear um ataque, que, em geral, só ocorre quando as abelhas têm o seu território invadido, por este motivo, a profilaxia para evitar ataques consiste em retirar os enxames que se instalam em zonas urbanas ou muito próximos a residências. Essa remoção de enxames deve ser realizada por especialistas com equipamentos adequados. 

Além disso, recomenda-se que em passeios ao campo, levem-se anti-histamínicos para tratamento imediato de algum eventual ataque de abelhas.

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domingo, 10 de julho de 2011

O porto a casa e a carpintaria

tipo de maxambomba para passageiros do recife

Na casa de Porto Mariante, em baixo do salão meu pai tinha uma fábrica de carroças, (o torno era uma parafernália tocada a pé, todas as outras ferramentas eram manuais, como plainas, serrotes, formões, furadeiras, etc.) e de pequenos barcos.

Assim, meu pai era carpinteiro e, ao mesmo tempo, ele cuidava do armazém para onde chegavam, de barco, as mercadorias para abastecer o comércio daquela região e também partiam as mercadorias que iriam abastecer as cidades ribeirinhas do rio Taquari e Jacui, principalmente Porto Alegre.

O armazém do qual estou falando, estava construído na beira do barranco do rio, que ficava a uns vinte ou trinta metros da superfície da água, e para carga e descarga eles usavam um sistema de maxambomba.
Esta maxambomba era tracionada por uma mula e se movia sobre um sistema de trilhos por onde transitavam dois carros, enquanto um subia o outro descia. Tais carros eram presos a um cabo de aço, de maneira que a mula movimentava um roda puchando um lado do cabo e afrouxando o outro, e nós dizíamos que enquanto o upa subia o cupa descia.

Recordo-me ainda dos fardos de alfafa, bem empilhados dentro do armazém, prontos para serem embarcados e levados para Porto Alegre. este tipo de ração era produzido nas terras boas às margens do rio Taquari, e levado para servir como alimento aos cavalos de corrida do prado, assim como para os cavalos de tração animal das carroças que traziam cerveja da Brama para o cais do porto.

Foi nesta época que eu virei pombo correio (tudo que eu falar sobre o assunto é por ter ouvido as “pessoas” dizerem), isto é, levar recado do meu pai para a minha mãe e vice versa. Naquele tempo eu somente tinha que me cuidar do tráfego “intenso” de carroças, puxadas umas por três mulas e outras maiores por seis, que vinham carregadas de fardos de erva-mate do município de Venâncio Aires.

A mata nativa daquele município possuía uma grande quantidade de pés de erva mate, tanto da paraguaiense como da caúna, razão porque Venâncio Aires (minha terra natal) tornou-se a capital da erva mate, e Porto Mariante era um de seus distritos.

Dizem que meus recados nem sempre eram muito bem compreendidos, também pudera, pois eu mal sabia formar frases capazes de serem entendidas...

Uma coisa que eu me recordo perfeitamente, é do material que eles botavam para melhorar as condições da estrada, naquela época não existia britadeira, então carregavam cascalho da beira do rio e espalhavam por cima da estrada, o cascalho era de pedra rolada no rio, com os cantos arredondados e a superfície bem lisa, parecia polida, os cascalhos eram muito bonitos, e ajudavam na conservação da estrada, pois a terra era de barro vermelho, e quando chovia, formava um lodaçal incrível.


Do Porto Mariante nos mudamos para Taquari, por um curto espaço de tempo, e novamente nos mudamos para Porto Gomes, que ficava bem perto de Porto Mariante, um quilômetro aproximadamente. Lembro-me que esta estrada tinha plátanos plantados ás suas margens, eu achava-os muito bonitos, fiz questão de plantar alguns na minha granja.

Fontes da ilustrações:
1- maxambomba por Leonardo Dantas Silva. Maxambombas e Maracatus (1935).
2- alameda de plátanos por oriza martin. Sinfonia de Outono.

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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A CARROÇA ATOLADA

Carro de Bois (óleo sobre tela) de Jurandi Assis

Meu tio João era sonâmbulo, e de vez em quando tinha uns sonhos que merecem ser relembrados, pois então vou contar um daqueles entre tantos, que guardei na memória!


Uma determinada noite meu tio João sonhou que estava trazendo uma carga de mandioca e cana, para dar aos animais na mangueira e no cercado dos porcos. Como ele não se lembrou que tinha chovido muito, e que a estrada estava barrenta, carregou muito a carroça. Porém, a junta de bois formada pelo Bragado e pelo Tição, era nova e tinha muita força, e ele veio vindo devagarinho, ultrapassando um buraco mais fundo aqui outro ali.

Para ultrapassar os obstáculos, hora tinha que chamar o Bragado, hora o Tição, até que num dado momento a carreta atolou de vez. Ele chamou um boi, chamou o outro, mas a força deles não era suficiente para desatolar a carreta. Dadas as circunstâncias, não teve outro jeito, ele desceu da carreta e foi ajudar os bois, pegou nos raios da roda e começou a fazer força, ao mesmo tempo em que gritava com os bois para que também fazessem força. Quando, finalmente, ele conseguiu destrancar a carreta, caiu na rua, levando consigo a parede do quarto e acordou!

Vou explicar: a casa do tio João era estruturada em madeira e os vãos das paredes eram preenchidos com tijolos que ficavam sem amarração, pois estes tijolos eram assentados apenas com argamassa de barro. No seu sonambulismo, meu tio João se agarrou nos ferros da cabeceira da cama, pensando que eram os raios da carreta, e enquanto fazia força com as mãos, apoiava as costas na parede. No ápice do esforço, a parede cedeu e o vão que ficava embaixo da janela se desmoronou e meu tio caiu com ele lá na rua. A queda não foi pequena, porque a casa era construída sobre palafitas que ficavam a uns dois metros do solo, por causa das enchentes do Rio Taquari.

Resultado prático do sonho: ele acordou todo esfolado, mas curadas as feridas e restaurada a parede, dava boas risadas cada vez que rememorava o fato!

Exemplo de casa sobre palafitas para evitar enchentes.

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domingo, 26 de dezembro de 2010

MEU TIO JOÃO E O TOURO BRASINO

Meu tio João era um pequeno agricultor, quem morava na Beira do Rio Taquari. No seu tempo, o serviço pesado era todo movido à tração animal, fato gerador de situações inesperadas...


Antes do Milagre Brasileiro, iniciado em 1968, quando houve um expressivo crescimento econômico, a mecanização da agricultura no Rio Grande do Sul era mínima e a tração animal era a regra.

Assim, todo pequeno agricultor criava as vacas para o abastecimento de leite e um ou dois touros ou bois para puxar arado e carreta. Em geral, utilizava-se um touro, que servia também como reprodutor, mais um boi que se tornava mais calmo por ser castrado.

Ataque de touro

Meu tio João tinha conseguido criar um touro manso para puxar carreta e arado. Ele era relativamente pequeno, de cor amarelada, guampa curta e atendia pelo nome de “Brasino”. Seu companheiro era o “Bragado”, que já não era mais touro, pois tinha sido castrado fazia algum tempo. O Bragado era muito manso pela sua condição de velho e castrado.

O tio João costumava botar os dois “a soga”, quando sabia que ia precisar deles para algum serviço. Ou seja, ele fincava uma estaca funda no chão e amarrava o animal a ela, permitindo que eles pastassem em torno da estaca e fosse mais fácil pegá-los para utilizar no arado ou carreta.

Esse era o costume e tudo corria bem. Porém, um dia quando meu tio foi pegar o touro Brasino, ele se enfezou, e investiu contra ele, derrubando-o no chão e fazendo-o perder os sentidos.

Felizmente, ao cair, meu tio rolou no chão ficando ao alcance apenas de ser raspado pelas guampas do touro. Quando ele voltou a si, já estava com a barriga toda riscada pelas “aspadas” que levou do touro. Sua sorte foi que a corda que segurava o touro era nova e a estaca era forte e estava bem cravada na terra.

Se o meu tio agiu de forma inusitada para enfezar o bicho, ele nunca contou, mas é fato que os touros são imprevisíveis e quando a gente menos espera, eles avançam. Geralmente, quando o fazem, eles são capazes de causar estragos bem grandes com suas investidas.

Como bom gaúcho, depois desse episódio, meu tio João fez um belo churrasco. A fonte da carne vocês podem imaginar!

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